domingo, 26 de julho de 2015

Relembrar pra curar

As vezes rebobino a dor que senti. Coloco o mesmo disco pra tocar, revejo as mesmas fotos, as mesmas conversas, relembro as mesmas palavras dolorosas. Sei lá. Considero necessário. Não de forma masoquista. Não o faço por prazer, mas sim como a observação da minha recuperação.
Olhei agora para aquele vídeo e lembrei da segunda semana. Minha vida tinha mudado, mas eu ainda era a mesma. Só uma menina, sentada naquele chão. Tentando não te olhar, chorando escondido, mentindo para mim mesma. Eu sinto a mesma sensação toda vez que ouço a música do vídeo.
Meu corpo, minha vida, tudo da forma que qualquer pessoa sonharia. E aquilo não bastava. Eu não estava preparada pra aquilo. Foi chama, desespero, incompreensão. Foi minha necessidade de sentir qualquer sensação diferente e nova. Pra ele ficar sabendo de tudo como espectador, de fora, distante. Fiz tudo pra ele. Queria no fundo causar-lhe dor. O objetivo era espalhar como eu era capaz. E aquela era exatamente a prova da minha incapacidade.
Só hoje vejo esses erros. Não com arrependimento, mas como aprendizado. Creio que só revendo a dor consigo reparar como hoje tudo tem uma forma diferente, como tudo mudou dentro de mim. Enxergo onde errei, tento buscar explicações. A dor me tornou mais, me trouxe acertos, maturidade. E o principal: mudança.
Sobre a dor que causei aos outros, a partir do meus erros, pouco posso fazer hoje. Não sei se ainda tem dores. Acredito que sim. Pois assim como dentro de mim, ainda há em você certa incompreensão, imagino eu. Não consegui analisar até o fim, não soube chegar a uma resposta. O por quê é o que mais dói, incomoda, me tira da zona de conforto. Deve o tirar também. E é esse "por quê" que é a pergunta do final de toda essa minha "revisão". Por quê assim?
Acredito que sem rever o que nos feriu não aprendemos a ser melhor. Analisar os passos me é necessário para evitar cometer os mesmos erros. Eu não sei o porquê. No fundo não deixei de buscar. Quero respostas pra mim, pra me compreender, pra deixar a dor finalmente ir, junto com as lembranças, as memórias, os presentes.
Sem a consciência de uma dor passada, não sentimos nosso crescimento. As feridas estão curadas, mas continuam guardadas na recordação de um passado que eu não faria questão de ter vivido.
Eu quis ver minha dor pra ver como eu cresci. Como neste último ano eu consegui varrer as cinzas, curar meu coração. Falta tanto. Me sobra ressentimento e questionamento. Mas o tempo cumpre seu papel. Seguindo sempre a lógica básica: tudo a seu tempo.

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