terça-feira, 27 de março de 2018

Sobre a minha essência

Quando penso em meu amadurecimento, vejo uma ruptura muito grande em um determinado ano da minha vida. Naquele ano, sinto claramente minha transformação. A partir daquele momento, eu havia me tornado uma outra pessoa, a qual não sou contente por ser.
Eu sempre uso uma flor como metáfora para descrever essa minha mudança. Até aquele ano, eu me sentia uma flor rosa bebê desabrochando, alcançando seu clímax, vivendo em plenitude. Mas, a partir daquele determinado ano, sinto como se a flor murchasse. Como se eu tivesse deixado de ser uma sonhadora.
Sinto que perdi a fé nas pessoas, no futuro, nas possibilidades de sonhar. Minha fé e meus sonhos foram substituídos por medo. E o grande problema nessa história é que o medo gera ódio, o medo corrói, o medo fere. E eu estava gravemente ferida. 
Muito rapidamente, deixei de ser uma jovem determinada para me tornar alguém que simplesmente não acreditava ter mais nada a fazer. Nada valeria a pena. Passei a ser incompreendida pelos outros e até por mim mesma. Afinal, não sei dizer porque e como me transformei.
Depois disso, vivi os anos mais cruéis, solitários e pessimistas. O que fazer quando você não quer fazer nada? Quando você não acredita em ninguém e tem medo de todos? Quando toda a sua estrutura e seus sonhos desmoronam?
Foram longos dois anos de lá até agora e, até hoje, não sei a resposta exata para essa superação. Eu não estou recuperada. Não sou e nunca serei a mesma. Tenho cicatrizes visíveis e invisíveis daquela ruptura e não serei capaz de recuperar a pessoa que era.
Com sorte, hoje posso começar a ver que, embora eu tenha mudado, não deixei a minha essência escapar de mim. Mesmo ferida, traída, incrédula, ainda há uma pequena chama de esperança. Não posso aceitar o meu fim. 
São tempos difíceis aos sonhadores, certo? Mas ainda não posso deixar de sonhar. Minha essência não me deixaria aceitar isso. Sei que as esperanças resistem em algum lugar dentro de mim. E, apesar das feridas e cicatrizes marcadas pelas minhas experiências, não posso desistir.
Não posso guardar em mim apenas as dores vividas e me impedir de viver novas boas coisas. As dores vividas por mim não são tudo o que o mundo pode me oferecer. Sei que há mais no mundo. Posso ir além de tudo o que me machucou. Eu tenho esperança em um mundo bom. Eu quero uma segunda chance. Uma terceira. Milésimas.

Eu vou dar uma segunda chance ao mundo e a mim.

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