terça-feira, 22 de outubro de 2019

Obrigada por ir embora

Nunca achei que nosso lance duraria muito. Me convenci com o tempo que, na verdade, a gente sempre sabe onde está se metendo. De certa forma, eu sabia: deixamos muito claro. Mas, mais uma vez, quis pagar pra ver. Nessa tentativa de me provar e de te provar, coloquei esse relacionamento como um desafio (eu amo desafios e você não foi o primeiro).
E aqui chegamos. Com um fim que nem mesmo foi dito em voz alta. Sumimos. Deixamos para "conversar depois". Evitamos um diálogo que ambos sabemos que jamais acontecerá. E assim está tudo bem por mim. Peguei minha dignidade e fui embora ao invés de insistir em conversas longas quando a outra pessoa já se foi. Essa seria apenas mais uma longa conversa e preferi dispensá-la. Foi a escolha certa.
Precisei olhar no calendário pra lembrar há quantos dias colocamos um ponto final na nossa relação. Faz 1 mês e 18 dias. Nos dias que antecederam o meu "conversamos depois", a sensação eminente do término me consumia (sensação que não deixei de sentir nenhum dia desde que te conheci). Estava perdida.
Não sei se nossa relação fez eu me perder, ou se o fato de estar perdida em minha vida fez com que essa relação se perdesse com todo o resto. Não terei essa resposta. O que sei é que eu não estava disposta. Me apeguei a você enquanto todo o resto desmoronava... Até que não foi possível nos segurarmos um ao outro.
Assim que me soltei (ou nos soltamos? ou você me soltou?) senti o vazio que me compõe. Sonhei com você diversas vezes. Quis incontáveis vezes te contar sobre aquele assunto mundano. Me questionei se você fazia o mesmo. Acordei desesperada na expectativa de uma mensagem e temi te enviar uma em algum momento de embriaguez. Nada disso aconteceu.
Compreendi que há tempo vago em mim. Me sobraram horas que antes eram dedicadas a nós. Me faltou entusiasmo, metas ou qualquer interesse. E finalmente consigo dizer que isso foi o que me moveu. Ao enfrentar o seu vazio precisei me preencher. Li de forma feroz. Me dediquei como nunca ao exercício físico. Passei a dormir bem, a ter bom dias, a mexer cada vez menos no celular. Voltei finalmente a estudar. Comecei a fazer minha skincare e já vejo resultados. Me mostrei vulnerável para aqueles que eu precisava de apoio e, com isso, comecei a me libertar de um peso grande. Tive a coragem de tomar a decisão mais importante que eu precisava há muito tempo: voltar pra casa. Pra não fugir do clichê, cortei também o cabelo. Me sinto linda.
Esqueci de falar essa parte, mas olha só: não precisei de ninguém pra preencher esse vazio. Eu, que já esperava encontrar em poucos dias um substituto à altura, pela primeira vez estou bastando na minha companhia. Não quero um novo amor. Primeiro porque ainda tenho feridas suas, dele, de tanta gente. Segundo porque não quero gastar minha energia, que é tão rara. Confesso também que perdi um pouco das esperanças, mas sei que eventualmente vou voltar a construí-las. No geral, eu só precisava de uma coisa, que é minha própria atenção.
Então te agradeço por partir e dar espaço para que eu florescesse. Ainda que um pouco ferida, ainda que eu sinta sua falta, ainda que me sinta insuficiente e descartável, consigo ver como tudo seguiu bem desde que a gente parou de fazer parte da vida um do outro. Eu sinto a falta do que tínhamos, mas não necessariamente preciso de você pra ter aquilo de novo. Há de haver novos amores, novos confidentes, novos sexos cabulosos. Obrigada por vir e por partir: eu nunca vou esquecer o que você fez a mim e por mim.

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