sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Pausas e lições necessárias

Às vezes me sinto culpada por parar minhas leituras acadêmicas para focar em literatura. Outras vezes uso a literatura como uma fuga e forma de procrastinação. Desde o início do ano, e já nem me lembro o motivo, eu quis ler O Ano em que eu disse sim, da Shonda Rhimes.
Eu não sou uma grande conhecedora do trabalho dela, embora tenha passado umas boas temporadas considerando How to Get Away minha série favorita. Também não sou de grandes amores, então é claro que eu não seria uma grande fã dela assim como não sou grande fã de ninguém. Talvez pelo título, não sei dizer, coloquei em minhas anotações o desejo de ler esse livro.
Assumo: foi uma fuga. E ao contrário do que parece, o que me chamou atenção no livro não foi o fato de evocar uma tendência a dizer "sim". Eu digo sim vezes demais. Eu me prejudico e vou contra meus desejos por tanto dizer sim.
Por sorte, essa leitura de me levou a visualizar que o "sim" de Shonda pode ser considerando uma metáfora para assumir uma dedicação à si. Tornar consciência de questões pessoais que precisam ser resolvidas, ter coragem para o enfrentamento de desafios que desprezamos ou ignoramos por puro medo do desconhecido. Se colocar em espaços de desconforto.
Em certo momento da minha vida, eu usei a frase "é preciso superar a zona de desconforto" para me guiar. E creio que o livro seja sobre isso: tornar lúcida a necessidade de enfrentamento de nossas próprias vidas ao invés do aconchego e da sensação de estarmos "dormindo", como a irmã Delorse diz a Shonda.
No fim das contas, essa leitura me capturou no momento crucial de profundo descuido meu com meus objetivos. Por puro medo. Me estagnei, duvidei de mim e perdi tempo por simplesmente estar acomodada. Como é difícil sair desse espaço. Mas eu preciso.
Foi a fuga necessária. Assim como nas longas horas nas quais tenho sorte de encontrar amigos no meio do caminho e conversar com eles sobre dores e medos. Essas conversas, embora eu sinta que estou deixando de me dedicar aos estudos, são momentos de contato com minha fragilidade. Essa semana, recebi um abraço de uma grande amiga na porta de casa, dizendo que me admirava e amava ver a energia com a qual eu levo a vida. Não consigo ver essa minha própria energia hoje. Mais tarde, ontem, uma amiga me lembrou de uma lição que ensinei pra ela: "antes feito que perfeito". Embora seja fácil dizer isso aos meus colegas, tem sido difícil focar nessa frase e agir.
Além disso, a escrita de Shonda em primeira pessoa me trouxe à tona o desejo de escrever que cultivo em mim desde sempre. Assim como a personagem fictícia Carrie Bradshaw, que n relembrou o quanto eu sempre amei (como pode-se ver por esse blog de mais de 10 anos) como eu amo escrever sobre relacionamento. Meus pensamentos precisam ecoar de forma escrita. Eu construo sentido sobre mim e sobre mundo enquanto ponho em palavras meus sentimentos. Assim como faço aqui agora, escrever é um grande prazer e ver exemplos me trazem mais desejo. Ler é uma fonte de inspiração e escrever é um alívio.
As pausas são necessárias, e são cheias de lições. Como sempre, são mulheres incríveis quem tem me trazido as mais valiosas lições.

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